Autoria:Martha Medeiros
Pessoas consideradas inteligentes dizem que a felicidade é uma idiotice, que pessoas
felizes não se deprimem, não têm vida interior, não questionam nada, são uns bobos
alegres, enfim, que a felicidade anestesia o cérebro.
Eu acho justamente o contrário: cultivar a infelicidade é que é uma burrice.
O que não falta nessa vida é gente sofrendo pelos mais diversos motivos: ganham mal,
não têm um amor, padecem de alguma doença, sei lá, cada um sabe o que lhe dói.
Todos trazem uns machucados de estimação, você e eu inclusive.
No que me diz respeito, dedico a meus machucados um bom tempo de reflexão,
mas não vou fechar a cara, entornar uma garrafa de uísque e me considerar uma grande intelectual só porque reflito sobre a miséria humana.
Eu reflito sobre a miséria humana e sou muito feliz, e salve a contradição.
Felicidade depende basicamente de duas coisas: sorte e escolhas bem feitas.
Tem que ter a sorte de nascer numa família bacana, sorte de ter pais que incentivem a leitura
e o esporte, sorte de eles poderem pagar os estudos pra você, sorte por ter saúde.
Até aí, conta-se com a providência divina.
O resto não é mais da conta do destino: depende das suas escolhas.
Os amigos que você faz, se optou por ser honesto ou ser malandro, se valoriza mais
a grana do que a sua paz de espírito, se costuma correr atrás ou desistir dos seus projetos,
se nas suas relações afetivas você prioriza a beleza ou as afinidades, se reconhece
os momentos de dividir e de silenciar, se sabe a hora de trocar de emprego, se sai do país ou fica,
se perdoa seu pai ou preserva a mágoa pro resto da vida, esse tipo de coisa.
A gente é a soma das nossas decisões, todo mundo sabe.
Tem gente que é infeliz porque tem um câncer.
E outros são infelizes porque cultivam uma preguiça existencial.
Os que têm câncer não têm sorte.
Mas os outros, sim, têm a sorte de optar.
E estes só continuam infelizes se assim escolherem.
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